Nosso adeus a Ole Skovsmose

Atuando na coordenação da EtnoMatemaTicas Brasis, cumpre-me externar nossos mais sinceros sentimentos pela perda de um grande pensador da Educação: Ole Skovsmose.

Desde o lançamento da revista e-Almanaque EtnoMatemaTicas Brasis, há um ano, em março de 2024, os editores incluímos Skovsmose no planejamento de agosto.2025-fevereiro.2026.  Skovsmose é uma referência singular no que estudamos, pesquisamos, dialogamos, defendemos, atuamos, em nossas referências…   

A Skovsmose, nosso respeito e admiração.

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Em particular, conheci Skovsmose ao ler seu artigo, “Cenários para Investigação”, de 2000. Eu fiquei encantada! Imprimi, sugeri a leitura na escola onde eu trabalhava. Mas não é fácil despertar interesse quando o assunto envolve a “traumatizante” matemática para os não atuantes na disciplina Matemática e afins. Também não me foi tão fácil despertar o interesse pela leitura de abordagem mais densa para os atuantes em Matemática e afins. E eu já tinha um pouco de experiência com essa rejeição de leitura e de matemática, afinal a “traumatizante” consta na palavra Etnomatemática de forte abordagem histórico-filosófica. 

E essa mistura – de encantamento, de desejo de compartilhar, discutir e aplicar o conteúdo do texto e de torná-lo mais atraente a todos de todos os lados – inspirou-me a “traduzir” o texto num poema de cordel. A palavra tradução busca expressar a relação entre os versos e os assuntos e cenários levantados por Skovsmose. Será que consegui?! Tal como foi escrito na época, suponho que em 2004, coloco abaixo o cordel que recebeu dois nomes: “Cordel da Investigação” e “Reconhecimento Ambiental”. Ele se inclui nas intituladas “Convite ao Professor de Matemática”. Uma vez, tive a oportunidade de expor este cordel e, artesanalmente, dei a ele o meu toque nordestino.

Se Matemática é sua área

E você é professor

Esta é mais uma proposta

Para ser educador

Foco único: aprendizagem

Mas múltiplos os ambientes

Passeie por todos os lados

Transgrida, experimente

Se é dado o conteúdo

E colocada uma situação

Ora, ora, professor

Há exercícios em questão

Mas se você inverte os fatos

E há um problema então

O intelecto se esforça

Pra chegar à solução

As estratégias serão muitas

Mas os objetivos não

Depois de muita conversa

Converge a uma única conclusão

Agora vejamos um caso

Que policial não é não

Mas como a situação é o início

Também é uma Investigação

Tudo aí é permitido

Pois o objetivo é aberto

E fica tão divergente

Que haja trabalho na mente!

E tudo é interessante

O contato é garantido

Com o conhecimento matemático

Que geralmente é excluído

E agora passeando

Em Ambientes de Aprendizagem

Resolução de problemas tá em tudo

Da Matemática pura à realidade

Já a investigação matemática

Como um trato em questão

Tá lá na Matemática pura

De um Cenário para Investigação

E neste mesmo cenário

Caminhando para a realidade apenas

Podemos trabalhar modelagem

Que também é resolução de problemas

Educador, fique atento

São muitas possibilidades

Descubra o melhor ambiente

Em busca de aprendizagem

O acesso à referência é fundamental ao Convite & Aceite do Professor de Matemática:

SKOVSMOSE, Ole. Cenários para Investigação. (Tradução de Jonei Cerqueira Barbosa). Bolema, Rio Claro – SP, v. 13, n. 14, 2000. Disponível em: <Cenários para Investigação | Bolema: Boletim de Educação Matemática>. Acesso em 27 fev. 2025.

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Sim, Skovsmose e Miriam conheceram o cordel. E hoje, em especial, lembrei dele e veio novamente o desejo de compartilhá-lo e de reforçar a importância do artigo original para um reconhecimento ambiental das possibilidades da investigação na Educação Matemática.

Eu me sentia feliz – e orgulhosa – de ter um xará: Ole. Com o nome que tenho, essa possibilidade nunca me tinha ocorrido. Tenho muitos apelidos, desde criança, mas a maioria das pessoas me chama de Ole. E, estando na mesma área, Educação (Matemática), e dialogando com uma referência comum, Ubiratan D’Ambrosio, algumas vezes fui surpreendentemente confundida com meu xará: uma vez, uma professora me comentou que achava que eu era homem; outra vez, me enviaram passagens de Skovsmose por e-mail e por engano. Mas, não há engano quanto à sensibilidade e à clareza dele para visualizar tão bem os “cenários para investigação” e quanto à sua incansável defesa de uma Educação Matemática Crítica. Como explicitou, Skovsmose (2000) tinha a expectativa de que “caminhar entre os diferentes ambientes de aprendizagem pode ser uma forma de engajar os alunos em ação e reflexão e, dessa maneira, dar à educação matemática uma dimensão crítica.”.

Olenêva, 28/02/2025.


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